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terça-feira, 8 de maio de 2012

RELAÇÕES MEDIÚNICAS

 Ola,

Continuando os esclarecimentos, José Herculano Pires, no Livro " Mediunidade", fala sobre as

Relações Mediúnicas


O problema do relacionamento dos médiuns com os espíritos, com os freqüentadores de sessões, com os companheiros de trabalho espírita e trabalho profissional, com o público em geral, com as instituições doutrinárias e particularmente com o seu meio familiar e os seus protetores e orientadores é de importância fundamental. Não obstante, tem sido negligenciado, acarretando dificuldades que seriam facilmente solucionadas à luz de uma investigação a respeito. O médium isolado ou solitário é um barco à deriva em águas desconhecidas e misteriosas.


O médium ligado a uma instituição é um barco ancorado, cuja segurança aparente o impede de navegar. As águas doutrinárias são volumosas e instá-veis como a do mar e o barco mediúnico precisa acostumar-se a enfrentar os seus embates para revelar sua resistência, seu equilíbrio, sua potência e velocidade. No plano relativo em que vivemos tudo depende de relações que só se processam na livre atividade. Jesus não teria podido andar sobre as águas nem aplacar a tempestade no mar se o seu barco mediúnico permanecesse ancorado no porto.

A mediunidade oculta no recesso da família ou de um pequeno grupo de reuniões privativas torna-se rotineira e estéril. O médium centraliza as atenções e converte-se numa criatura mimada, considerada excepcional e por isso mesmo a salvo de erros e de críticas. Forja-se assim, em torno do médium, um círculo vicioso de reverência e adoração, de submissão supersticiosa, que o transforma num ídolo ou num oráculo infalível. Essa infalibilidade artificial não o beneficia, nem ao grupo, mas apenas aos espíritos sistemáticos ou mistificadores, que mais hoje mais amanhã poderão levá-lo à obsessão. No ambiente de beatice e temor assim formado, ele é, na verdade, uma vítima dos seus próprios adoradores. O Espiritismo não é assunto privativo e a mediunidade não se fecha em redomas de vidro. Sua função não é específica e giratória, mas aberta, ampla e dinâmica, destinada a expandir-se na multiplicidade das relações por todo o mundo.

O médium solitário vive apenas em duas dimensões: a dimensão do espírito comunicante e a sua própria dimensão individual. Falta-lhe a dimensão social, sem a qual não há possibilidade de confronto de suas percepções e captações com a realidade tridimensional do mundo. Mas além disso falta-lhe a dimensão cultural das relações doutrinárias, que lhe abriria as perspectivas do inteligível, uma estrutura de planos e superplanos do entendimento superior e global das situações existenciais. Quer dizer: a sua solidão voluntária o reduz a uma situação existencial única, desligada das variadas situações em que se desenvolve o processo cultural espírita. Alheio à variedade crescente desse processo, ele cai numa posição doméstica, sem os dados necessários à orientação das suas funções mediúnicas e à verificação da legitimidade de suas captações. Nessa posição está exposto ao envolvimento das entidades mistificadoras, que desviarão facilmente as suas energias mediúnicas para o campo das confusões doutrinárias e, portanto, do aviltamento da doutrina.

Se a nossa realidade existencial no mundo se fecha apenas nas três dimensões, a realidade espiritual, pelo contrário, se abre nas múltiplas dimensões das percepções extra-sensoriais, indispensáveis ao conhecimento total da realidade em que vivemos, bem como das relações estruturais do sensível com o inteligível. O médium solitário torna-se vulnerável à fascinação e à subjugação de entidades interessadas em fazer o conhecimento espiritual retroceder às condições do passado monástico e teológico que o Espiritismo rompeu para iniciar uma nova era da cultura terrena.

As relações sociais no Espiritismo, em campo aberto, têm por finalidade o apoio recíproco de médiuns, estudiosos e pesquisadores dos fenômenos mediúnicos, para troca de idéias e de experiências, de maneira a facultar o desenvolvimento de uma cultura espiritual desligada das superstições do passado obscurantista, em que o isolamento orgulhoso das Igrejas em relação ao avanço científico separou a cultura religiosa da cultura geral. A condição de isolamento do médium, impedindo e frustrando o processo necessário das suas relações mediúnicas, impede a abertura da sua mente para as concepções mais amplas da atualidade cultural. Em poucas palavras: o médium egoísta e seu orientador espiritual semelhante a ele se engolfam em suas próprias lucubrações desprovidas de validade social e perturbam a evolução do processo espírita. Ao mesmo tempo, o apego às suas produções mediúnicas, por ele mesmo consideradas como de grande valor, o afasta cada vez mais do meio social espírita e, conseqüentemente, do meio cultural em que deve desenvolver-se.

Nas relações com as instituições espíritas o médium encontra também uma barreira que geralmente o decepciona, fazendo-o retroceder ao seu isolamento. É o círculo vicioso em que caímos no movimento espírita brasileiro, infelizmente em conseqüência da nossa própria formação religiosa e da nossa falta generalizada de conhecimentos filosóficos, que deu ênfase excessiva, entre nós, ao aspecto religioso do Espiritismo e às tendências místicas e mágicas do nosso povo. O apelo de Kardec à razão não despertou as camadas da população que se voltaram para a doutrina, e nem mesmo a absoluta maioria dos homens de cultura que se revelaram dominados por essa herança ambivalente, ao mesmo tempo mística e positivista, nos últimos tempos sobrecarregadas de influências positivistas e materialistas.

O Prof. Cruz Costa observou que a influência do chamado espírito prático português domina nossas atividades culturais. Esse complexo de fatores (ressalvada a ambivalência acima referida) deu ao nosso movimento espírita uma condição conflitiva, que aumenta a confusão no tocante à compreensão da doutrina. O resultado é o aparecimento de mestres doutrinários imbuídos de pretensões revisionistas, inventores de novas práticas e criadores de princípios estranhos à natureza do Espiritismo. Os adeptos sempre aparecem em nossa paisagem cultural anêmica mas pretensiosa, incentivando o aparecimento de novos missionários que se apresentam – com uma confiança alarmante em suas escassas forças – proclamando-se reencarnações de grandes figuras históricas e afirmando-se incumbidos de levar o Brasil à liderança espiritual do mundo. A ingenuidade dos crentes, que não são apenas criaturas incultas mas também dotadas de cultura universitária (ou pelo menos graduadas), equivale à audácia dos líderes estranhamente convencidos de sua própria grandeza espiritual.
Diante dessa escatologia quixotesca, as relações mediúnicas se confinam em escolas divergentes, pulverizando-se nos divisionismos irreconciliáveis. Médiuns de uma escola não aceitam os princípios de outras, de maneira que as relações se tornam inviáveis. Contra essa situação sem perspectivas, lutam os grupos que defendem os fundamentos legítimos da doutrina, à espera de melhores dias.


As relações mediúnicas normais de médium para médium são de importância básica para a criação de um ambiente pré-cultural espírita, pois a permuta normal (e portanto sensata) de idéias e experiências, leituras e estudos sedimenta aos poucos uma base de entendimento comum e ajuda mútua para o desenvolvimento real do conhecimento doutrinário em relação com a cultura do meio. Por outro lado, as experiências de uns reforçam ou esclarecem as de outros, reforçando a confiança de todos nos princípios doutri-nários e evitando a perniciosa proliferação dos líderes carismáticos. Felizmente essas relações existem, embora limitadas a alguns grupos que não se desviaram do bom-senso, atraídos pelas supostas missões renovadoras. E graças a esses grupos e a um mínimo de publicações e editoras que procuram manter as obras fundamentais e algumas subsidiárias em circulação, sob a avalanche de publicações e livros desorientadores, que ainda podemos ter esperança de um futuro reajustamento da nossa situação doutrinária conturbada.

As relações dos médiuns com o público, cada vez mais ansioso por ajuda e esclarecimento espirituais, são geralmente prejudicadas pelos preconceitos religiosos. As raízes místicas e mágicas da nossa formação religiosa levam as pessoas a encararem os médiuns como criaturas privilegiadas, dotadas de dons sobrenaturais. Os médiuns, por sua vez, dificilmente compreendem que esse é um fator desfavorável à sua relação normal e incentivam essa falsa idéia com palavras e atitudes que brotam da vaidade individual, do desejo de realmente passarem como dotados de condições superiores às normais. Desse processo espúrio resulta novamente uma situação de ambivalência, que equivale à ambigüidade, neutralizando os possíveis efeitos de um entendimento frustrado. Quando a ingenuidade dos interlocutores chega às raias do absurdo e eles crêem nos poderes do médium, tornam-se crentes inúteis, dominados por uma subserviência medrosa. Essa a causa do endeusamento dos médiuns, não raro desprovidos até mesmo dos predicados normais da espécie. De um relacionamento assim ilusório e tolo, de parte a parte, nada pode resultar de proveitoso.

É necessário que os médiuns tomem consciência dessa situação ridícula e evitem qualquer manifestação, por palavras, atos ou atitudes, que possa estimular o engano dos consulentes. Se os médiuns compreenderem isso e conseguirem enfrentar essas situações com despretensão e humildade natural, espontânea, nunca exagerada (que é também uma manifestação de vaidade) poderão realmente ser úteis, receber intuições orientadoras e socorrer os necessitados. Com isso farão uma experiência nova e benéfica para si mesmos e darão não só a sua ajuda aos que o procuram, mas também a sua contribuição à causa espírita. Mé-diuns e pregadores ou expositores espíritas sem humildade, sem o devido conhecimento de suas próprias deficiências, são espantalhos no arrozal do Espiritismo. Conquistam uma popularidade falsa, glória mentirosa e nada fazem de bem, nem a si mesmos nem aos outros. Seus sucessos são aparentes e efêmeros, mas a derrota moral que representam perdurará em seus espíritos e em suas consciências.


Para que o médium consiga superar essas dificuldades da relação com o público, é necessário que haja, primeiro, superado as dificuldades de suas relações com os espíritos. Enxameiam em torno dos médiuns espíritos pretensiosos, que desejam convertê-los em seus instrumentos de relação com os homens. Mas os espíritos sinceros e bons, devotados ao bem, também o socorrem. Se ele, porém, não houver treinado em silêncio, na meditação e na prece ou nas reuniões mediúnicas, os meios de livrar-se dos obsessores, não terá, na hora da prova, diante do interlocutor ansioso, muitas vezes suplicante, a possibilidade de fazê-lo. As relações do médium com os seus orientadores espirituais antece-dem as suas relações com o público e determinam a natureza destas. Para auxiliar os outros, o médium precisa haver sido auxiliado pelos espíritos bons. Dessa maneira, os médiuns que realmente semeiam benefícios são aqueles que aprenderam a viver na intimidade dos seus protetores e amigos espirituais. A vaidade é sempre o maior empecilho a essa intimidade, pois os médiuns, em geral, mal saíram de uma obsessão, já se consideram emancipados, capazes de agir por conta própria, preparando-se assim para nova obsessão. Kardec explica essas dificuldades com a maior clareza e precisão, mas os obsessores costumam soprar aos médiuns a idéia vaidosa de que Kardec se tornou artigo de museu, como se a verdade pudesse envelhecer. Deixando-se levar na onda das novidades, os médiuns aceitam indicações de livros atualíssimos, desdenhando o mestre e pagando caro esse desdém, não raro por toda uma existência que poderia ter sido útil mas tornou-se nula e prejudicial.


No tocante aos espíritos obsessores e sofredores as relações mediúnicas exigem muita atenção e cuidado de parte do médium. Os sofredores, por si mesmos, não oferecem perigo, mas podem ser utilizados pelos obsessores para transmitirem seu mal-estar ao médium. É necessário não repeli-los, mas esclarecê-los e orientá-los, orando por eles. Nos casos de persistência do espírito enfermo, o médium deve recorrer aos companheiros de trabalho para uma sessão em que a entidade possa comunicar-se. Os espíritos obsessores, mistificadores ou vingativos devem ser tratados com benevolência. Em todos esses casos o médium pode agir por si mesmo, doutrinando ele mesmo os perturbadores através de exortações e preces. Esse problema é bastante conhecido e os médiuns dispõem de experiências a respeito. Mas o importante, e que poucos levam a sério, são as medidas preventivas que todo médium deve tomar quanto a essas aproximações incômodas. Elas podem ocorrer por vários motivos e de formas as mais variadas: simples atração da faculdade mediúnica; aproximação por causa de afinidade mental ou de preocupações do médium; laços afetivos de existências anteriores ou desta, ação de um espírito protetor para beneficiar o sofredor e assim por diante. No caso dos obsessores e mistificadores pode ser para experimentar a firmeza do médium, por atração de seus pensamentos vaidosos ou maldosos; por motivo de ódios antigos; perseguição por motivos doutrinários, de parte de adeptos de seitas contrárias à doutrina; vingança relacionada com problemas do passado; desejo de arrastar o médium a outros caminhos espirituais, afastando-o do Espiritismo e assim por diante.

O Livro dos Médiuns esclarece bem este assunto a que nos referimos, indicando a variedade de motivações. É necessária a leitura do livro A Obsessão de Kardec e pesquisas na coleção da Revista Espírita. Todos esses casos podem ser prevenidos pelo médium através de um comportamento regular na vida, dedicando-se aos estudos doutrinários sistemáticos para mais ampla compreensão das funções mediúnicas. As relações regulares e permanentes com os espíritos orientadores, no interesse de bem servir a todos os espíritos necessitados, de qualquer ordem, e particularmente a freqüência às sessões, com inteira disposição de atender a todos os espíritos que dele se aproximarem. Um comportamento cristão em todas as circunstâncias e o interesse permanente pelo conhecimento doutrinário é o melhor preventivo para todas essas aproximações, que geralmente são oportunidades de serviço, despertando o médium para maior e melhor cumprimento de seus deveres mediúnicos.

Quanto mais dedicado for o médium às suas obrigações mediúnicas, mais equilibrado se sentirá e mais apto a solucionar com facilidade os casos de perturbação. Evitar estados de inconformação, tristeza e aborrecimento, mantendo-se o mais possível na disposição de tudo encarar com naturalidade, confiança e fé, na certeza de que os poderes superiores velam pelas criaturas de boa-vontade, mas sem otimismos ilusórios ou esperanças de privilégios pessoais no trânsito das experiências terrenas. A Lei do Amor rege o Universo. Os que aprenderam a amar e perdoar, a orar e servir, não têm o que temer.
No tocante às instituições doutrinárias as relações mediúnicas envolvem graves problemas de ordem moral. Cabe às instituições a representação da doutrina no plano social. As práticas religiosas do Espiritismo levam o povo a considerá-lo como simplesmente uma religião, enquadrando-o nas exigências formais do sistema igre-jeiro. Uma Federação é uma espécie de catedral e um Centro Espírita é uma igreja. Conseqüentemente, são lugares sagrados em que pontificam os expoentes da religião e de onde flui a doutrina pura e sem mácula. Os médiuns são geralmente considerados como os sacerdotes do culto espírita e muitos deles se convencem disso com muito entusiasmo.

Disso resulta um clima de submissão sagrada dos médiuns e dos Centros e Grupos às Federações Espíritas, violando os princípios doutrinários de liberdade e autodeterminação, sem o qual não existiria a responsabilidade própria das instituições menores. As entidades federativas são as primeiras a se convencerem disso e passam a dominar o meio doutrinário. A falibilidade dos homens pode levar uma Federação a cometer deslizes doutrinários graves ou a endossar mistificações evidentes que, sob o prestígio federativo, inundam o meio espírita, radicam-se nele e produzem sérias lesões na estrutura equilibrada e lógica da doutrina, deformando-a a ponto de torná-la ridícula. As relações mediúnicas entre a entidade federativa, os Centros e Grupos, e os próprios médiuns que nela trabalham ficam naturalmente abaladas. Cabe aos médiuns a função de restabelecer o equilíbrio, através das manifestações dos espíritos orientadores. Mas o clima estabelecido, sendo conflitivo, cria barreiras ao dever de espíritos e médiuns. Qualquer manifestação mediúnica discor-dante da orientação federativa é considerada como mistificação.

Não se trata de situações imaginárias, mas de fatos concretos e conhecidos. Os médiuns doutrinariamente pouco instruídos submetem-se ao poder formal, que na realidade não existe. Outros, embora mais instruídos, submetem-se também, evitando atritos. Mas os que têm consciência doutrinária e conhecem os seus deveres mediúnicos não concordam e acabam afastados da instituição. As dificuldades para superação dessa crise aumentam no correr do tempo. Médiuns de grande projeção no meio espírita vêem-se obrigados a omitir-se para não ferir suscetibilidades e não provocar escândalos. A mediunidade é ferida de morte em sua função esclarecedora e orientadora. Os interesses humanos se sobrepõem aos interesses espirituais, estabelecendo a censura das manifestações mediúnicas. Foi assim que o culto pneumático do Cristianismo Primitivo, em que o pneuma (espírito em grego) foi sufocado pelas decisões conciliares da Igreja de Roma, que se amparava no poder terreno do Império Romano. O espírito deixou de soprar, mas os poderes e a autoridade dos formalismos e das convenções assenhorearam-se do Cristianismo e o deformaram totalmente. Quando as vozes do Céu falavam, os médiuns eram sacrificados em nome do Cristo. Joana D'Arc, soprada pelas vozes espirituais, foi excomungada e depois queimada viva na fogueira inquisitorial. Os médiuns atuais, ainda amedrontados pelo poder dos homens, parecem ver nas instituições espíritas, desviadas de seus deveres doutrinários, a ameaça das fogueiras.


Esta parábola real, que não se constitui de figuras imaginadas, mas de fatos históricos, deve ser meditada pelos médiuns que desejam cumprir os deveres da Moral Mediúnica. Podemos medir a legitimidade dos médiuns e de suas comunicações pelo grau de consciência que revelam no desempenho do mediunato em momentos como esse. O mais grave dessas omissões é que a maioria delas decorre de interesses mundanos: o medo de ser excluído da instituição, o desejo de brilhar como elemento de destaque e assim por diante. A falta de convicção e de coragem de médiuns e dirigentes tornou avariado e suspeito o nosso sistema de comunicações mediúnicas. Precisamos proceder urgentemente a uma revisão do sistema, para pelo menos descobrirmos as mensagens que a censura impugnou. Elas devem conter valiosas lições de Moral Mediúnica, que seriam injeções restauradoras de energias gastas no esforço penoso das omissões.


A posição do médium na família é quase sempre conflitiva. Assim também no seu local de trabalho, no meio político e assim por diante. Não tanto pelas discordâncias de opiniões com os outros em face de vários problemas, mas pelo seu dever de contribuir para a boa e justa solução das pendências. A Moral Mediúnica não lhe aconselha a omissão, que é sempre uma fuga ao cumprimento do dever. Ele tem de agir, de participar ao lado dos companheiros, mas não pode trair os seus princípios para agradar este ou aquele. Sua atitude é pautada pelo imperativo cristão do Seja o teu falar sim, sim, não, não. O que disso passar, como vemos nos Evangelhos, é obra do maligno, o que vale dizer do espírito de acomodação, de traição a si mesmo. Suas dificuldades podem ser facilmente superadas pela sinceridade. Mas, por mais sincero que seja, o obstáculo maior a vencer estará na atuação contraditória dos espíritos inferiores sobre ele, tentando levá-lo para esta ou aquela posição de suas preferências. Se ele não vigiar e orar, certamente não dará acesso aos espíritos generosos que desejam sempre auxiliá-lo. A visão mediúnica não se aplica apenas aos problemas espirituais, mas também a toda a problemática mundana.

Os médiuns sabem que o homem é espírito e não carne, de maneira que, fundamentalmente, é o mesmo neste e no outro mundo. Apelando aos seus amigos espirituais conseguirá a assis-tência intuitiva que lhe indicará o caminho certo. E esse caminho é o do amor, que evita ferir sem necessidade, indicar o rumo sem a pretensão de impô-lo, perder com dignidade e sem protesto, vencer pela razão sem trapaça. Nenhum de nós é o juiz que decide as pendências em definitivo. É moral o que é bom e justo. Mas se a maioria repele esse critério por interesses particulares, temos de ceder ao poder dos números. Saber tolerar a vitória da imprudência não é fácil, mas se fizermos o que nos cabe nossa consciência não será conturbada. O necessário é sustentar a verdade diante da mentira, não apoiar o erro e tentar corrigi-lo. Se a tentativa falhar, a responsabilidade do erro cabe aos que erraram. O protesto, nesse caso, seria o sinal de Deus na fronte de Caim. O médium dá ao mundo a sua contribuição, mas não pode obrigá-lo a aceitá-la.

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