Olá,
De todos os planetas, o mais avançado, sob todos os
aspectos, é Júpiter. Ali, é o reino exclusivo do bem e da justiça,
porque não há senão bons Espíritos. Pode-se fazer um idéia do feliz
estado dos seus habitantes pelo quadro que demos do mundo habitado sem a
participação dos Espíritos da segunda ordem.
A
superioridade de Júpiter não está somente no estado moral dos seus
habitantes; está, também, na sua constituição física. Eis a descrição
que nos foi dada, desse mundo privilegiado, onde encontramos a maioria
dos homens de bem que honraram nossa Terra pelas suas virtudes e seus
talentos.
A conformação dos corpos é quase a mesma
desse mundo, mas é menos material, menos denso e de uma maior leveza
específica. Ao passo que rastejamos penosamente na Terra, o habitante de
Júpiter se transporta, de um lugar para outro, roçando a superfície do
solo, quase sem fadiga, como o pássaro no ar ou o peixe na água. Sendo a
matéria, da qual o corpo está formado, mais depurada, ela se dissipa,
depois da morte, sem ser submetida à decomposição pútrida. Ali não
existe a maioria das enfermidades que nos afligem, sobretudo aquelas que
têm sua fonte nos excessos de todos os gêneros e na desordem causada
pelas paixões.
A alimentação está em relação com essa
organização etérea; não seria bastante substanciosa para os nossos
estômagos grosseiros, e a nossa seria muito pesada para eles; ela se
compõe de frutas e plantas, e, aliás, haurem, de algum modo, a maior
parte do meio ambiente do qual aspiram as emanações nutritivas. A
duração da vida é, proporcionalmente, muito maior que sobre a Terra; a
média equivale a cinco dos nossos séculos. O desenvolvimento também é
muito mais rápido, e a infância dura apenas alguns de nossos meses.
Sob
esse envoltório leve, os Espíritos se desligam facilmente e entram em
comunicação recíproca unicamente pelo pensamento, sem excluir, todavia, a
linguagem articulada; também a segunda vista é, para a maioria uma
faculdade permanente; seu estado normal pode ser comparado ao dos nossos
sonâmbulos lúcidos; é também porque se manifestam, a nós, mais
facilmente do que aqueles que estão encarnados em mundos mais grosseiros
e mais materiais. A intuição que têm do futuro, a segurança que lhes dá
uma consciência isenta de remorsos, fazem com que a morte não lhes
cause nenhuma apreensão; vêem-na chegar sem medo e como uma simples
transformação.
Os animais não estão excluídos desse
estado progressivo, sem se aproximarem, entretanto, do homem, mesmo sob o
aspecto físico; seus corpos, mais materiais ligam-se ao solo, como nós à
Terra. Sua inteligência é mais desenvolvida do que nos nossos; a
estrutura dos seus membros se dobra a todas exigências do trabalho; são
encarregados da execução de obras manuais; são os servidores e os
operários: as ocupações dos homens são puramente intelectuais. O homem
é, para eles, uma divindade, mas uma divindade tutelar que jamais abusa
do seu poder para oprimi-los.
Os Espíritos que habitam
Júpiter, geralmente, se comprazem, quando querem se comunicar conosco na
descrição do seu planeta, e quando se lhes pergunta a razão, respondem
que é a fim de nos inspirar o amor ao bem pela esperança de, para lá, ir
um dia. Foi com esse objetivo que um deles, que viveu na Terra com o
nome de Bernard Palissy, o célebre oleiro do décimo sexto século,
empreendeu, espontaneamente e sem ser solicitado para isso, uma série de
desenhos tão notáveis, tanto pela sua singularidade quanto pelo talento
da execução, e destinado a nos dar a conhecer, até nos menores
detalhes, esse mundo tão estranho e tão novo para nós.
Alguns
retratam personagens, animais, cenas da vida privada; mas, os mais
notáveis, são aqueles que representam habitações, verdadeiras
obras-primas das quais nada sobre a Terra poderia nos dar uma idéia,
porque essa não parece com nada do que conhecemos; é um gênero de
arquitetura indescritível, tão original e, no entanto, tão harmoniosa,
de uma ornamentação tão rica e tão graciosa, que desafia a mais fecunda
imaginação. O senhor Victorien Sardou, jovem literato e dos nossos
amigos, cheio de talento e de futuro mas em nada desenhista, lhes serviu
de intermediário. Palissy nos promete uma série que nos dará, de algum
modo, a monografia ilustrada desse mundo maravilhoso. Esperamos que essa
curiosa e interessante coletânea sobre a qual voltaremos num artigo
especial consagrado aos médiuns desenhistas, poderá ser, um dia,
entregue ao público.
O planeta Júpiter, apesar do
quadro sedutor que dele nos foi dado, não é o mais perfeito entre os
mundos. Há outros, desconhecidos para nós, que lhes são bem superiores,
no físico e no moral, e cujos habitantes gozam de uma felicidade ainda
mais perfeita; lá é a morada dos Espíritos mais elevados, cujo
envoltório etéreo nada mais tem das propriedades conhecidas da matéria.
Várias
vezes, perguntaram-nos se pensamos que a condição do homem nesse mundo é
um obstáculo absoluto a que pudesse passar, sem intermediário, da Terra
para Júpiter. A todas as questões que tocam à Doutrina Espírita, jamais
respondemos segundo as nossas próprias idéias, contra as quais estamos
sempre desconfiando. Limitamo-nos a transmitir o ensinamento que nos foi
dado, ensinamento que não aceitamos com leviandade e com um entusiasmo
irrefletido. À questão acima, respondemos simplesmente, porque tal é o
sentido formal das nossas instruções e o resultado das nossas próprias
observações: SIM, o homem, deixando a Terra, pode ir imediatamente para
Júpiter, ou para um mundo análogo, porque esse não é único dessa
categoria. Pode-se disso ter a certeza? NÃO.
Pode-se para
lá ir porque há, sobre a Terra, embora em pequeno número, Espíritos
bastante bons e bastante desmaterializados para não serem deslocados
para um mundo onde o mal não tem acesso. Não há a certeza disso, porque
pode-se se iludir sobre o mérito pessoal, e pode-se, aliás, ter uma
outra missão a cumprir. Aqueles que podem esperar esse favor, não são,
seguramente, nem os egoístas, nem os ambiciosos, nem os avaros, nem os
ingratos, nem os ciumentos, nem os orgulhosos, nem os vaidosos, nem os
hipócritas, nem os sensuais, nem nenhum daqueles que estão dominados
pelo amor aos bens terrestres; a estes, talvez, seja preciso, ainda,
longas e rudes provas. Isso depende de sua vontade.
Revista Espírita, março de 1858
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