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terça-feira, 30 de abril de 2013

Variedade infinita dos seres - As metamorfoses

 Olá,

Desde muito tempo já, o sistema tricolor tinha fugido sob o nosso vôo.
Passamos pela vizinhança de grande número de mundos bem diferentes da pátria terrestre.
Uns pareceram-me inteiramente cobertos de água e povoados de seres aquáticos; outros unicamente habitados por plantas.
Alguns se acham absolutamente desprovidos de água: são os que pertencem a sistemas idênticos ao da estrela Alfa de Hércules – privados de hidrogênio.


 Outros parecem em labaredas. Paramos perto de muitos. Que inimaginável variedade!
Sobre um de entre eles, as rochas, as plantas e as paisagens reenviam, durante as horas da noite, a luz que receberam e acumularam no decurso do dia.
 Talvez o fósforo constitua importante contingente na composição desses corpos.
É um mundo muito estranho, onde a noite é desconhecida, embora seja desprovido de satélites.
Parece que seus habitantes desfrutam de uma propriedade orgânica muito preciosa: são conformados de tal sorte que percebem todas as funções da manutenção vital do organismo.
 De cada molécula do corpo, por assim dizer, parte um nervo que transmite ao cérebro as impressões variadas que recebe, de maneira que o homem se vê interiormente e conhece, de início, todas as causas das doenças, os menores sofrimentos, os quais são detidos desde os seus germens.
Em outro globo, que atravessamos também durante a noite, isto é, do lado do seu hemisfério noturno, os olhos humanos estão organizados de tal sorte que são luminosos, alumiam, qual se alguma emanação fosforescente irradiasse do seu estranho foco.
 Uma reunião noturna, composta de grande número de pessoas, oferece aspecto verdadeiramente fantástico, por isso que a claridade, e assim a cor dos olhos, muda conforme as diversas paixões que as animam. Além disso, o poder desses olhares é tal que exercem influência elétrica e magnética de intensidade variável e, em certos casos, podem fulminar, fazer cair morta à vítima na qual se fixe toda a energia da sua vontade.
Um pouco mais longe, o meu guia celeste assinala um mundo onde os organismos gozam de preciosa faculdade: a Alma pode mudar de corpo, sem passar pela circunstância da morte, muitas vezes desagradável, e sempre triste.
Um sábio, que trabalhou a vida inteira pela instrução da Humanidade, e vê chegar o fim de seus dias sem haver terminado os nobres empreendimentos, pode mudar de corpo com um adolescente e recomeçar uma vida nova, mais útil ainda do que a primeira. Para essa transmigração basta o consentimento do adolescente e a operação magnética de um médico competente.
 Vêem-se também, às vezes, dois entes, unidos pelos tão suaves e fortes laços do amor, operar igual mudança de corpo, após vários lustros de união: a Alma do esposo vem habitar o corpo da esposa, e vice-versa, pelo resto da existência.
O conhecimento íntimo da vida se torna incomparavelmente mais completo para cada um deles. Vêem-se também sábios, historiadores, desejosos de viver dois séculos em vez de um, mergulhar em sonos fictícios de hibernação artificial, que lhes suspendem a vida durante metade de cada ano e mesmo mais. Alguns conseguem até viver três vezes mais tempo do que a vida normal dos centenários.


URÂNIA                                         CAMILLE FLAMARION

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