Digite aqui o assunto do seu interesse:

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Viagem entre os universos e os mundos - As humanidades desconhecidas II

Olá,

... Eu contemplava toda aquela imensidade estrelada, no meio da qual nos elevávamos sempre, e procurava reconhecer as constelações; estas, porém, começavam a mudar sensivelmente de formas, por motivo da diferença de perspectiva causada pela minha viagem;
a Via-Láctea estava submersa sob o nosso vôo, qual catarata de sóis em fusão, tombando ao fundo do Infinito;
as estrelas das quais nos aproximávamos emanavam rutilâncias fantásticas, derramando uma espécie de rios de luzes, irradiações de ouro e prata, cegando-nos de fulgurantes claridades.
Acreditei ver o nosso Sol, transformado insensivelmente em uma estrelinha, reunir-se à constelação do Centauro, enquanto uma nova luz, pálida, azulada, bastante estranha, chegava da região para a qual Urânia me conduzia.


 Essa claridade nada tinha de terrestre e não me recordava nenhum dos efeitos que eu havia admirado nas paisagens da Terra, nem entre os tons tão cambiantes dos crepúsculos depois da tempestade, nem nas brumas indecisas da manhã, nem durante as horas calmas e silenciosas do clarão da Lua no espelho do mar.
Este último efeito era talvez aquele de que esse aspecto mais se aproximava, mas a estranha luz era, e cada vez se tornava mais verdadeiramente azul, não de um reflexo de azul celeste ou de um contraste análogo ao que produz a luz elétrica comparada à do gás, mas azulada igual a se o próprio Sol fosse azul!
Qual não foi a minha estupefação, quando me apercebi de que nos aproximávamos, com efeito, de um sol absolutamente azul, igual a um disco brilhante que houvesse sido recortado nos nossos mais belos céus terrestres, destacando-se luminosamente em um fundo todo negro, todo constelado de estrelas! Esse sol safira era o centro de um sistema de planetas iluminados pela sua luz.
 Íamos passar pertinho de um desses planetas.
 O sol azul crescia a olhos vistos; mas, novidade tão singular quanto a primeira, a luz com que ele iluminava o dito planeta se complicava de um certo lado com uma coloração verde.
Olhei de novo para o céu e avistei um segundo sol e esse de um belo verde-esmeralda!
 Não acreditava em meus olhos.
– Estamos atravessando – disse Urânia – o sistema solar de Gama de Andrômeda, do qual ainda não vês mais do que uma parte, pois ele se compõe, na realidade, não desses dois sóis, mas de três, um azul, um verde, e um amarelo-la ranja.
 O sol azul, que é o menor, gira em torno do sol verde, e este gravita com seu companheiro em redor do grande sol alaranjado que vais avistar dentro em pouco.
Com efeito, vi logo aparecer um terceiro sol, colorido dessa ardente irradiação, cujo contraste com seus dois companheiros produzia a mais estranha das claridades.
Conhecia bem tão curioso sistema sideral, por tê-lo mais de uma vez observado com o telescópio; mas, não suspeitava sequer o seu verdadeiro esplendor.
Que fornalhas, que deslumbramentos.
 Que vivacidade de cores nessa estranha fonte de luz azul, nessa iluminação verde do segundo sol, e nessa irradiação de ouro fulvo do terceiro!
Mas, havíamo-nos aproximado, conforme disse, de um dos mundos pertencentes ao sistema do sol safira.
 Tudo era azul: paisagens, águas, plantas, rochedos, levemente esverdeados do lado que recebia luz do segundo sol, e apenas tocadas dos raios do sol alaranjado que se erguia no horizonte longínquo.
 À medida que penetrávamos na atmosfera desse mundo, uma suave música, deliciosa, erguia-se nos ares à semelhança de um perfume, de um sonho.
Jamais eu ouvira coisa igual. A doce melodia, profunda, distante, parecia vir de um conjunto de harpas e violinos sustentado por um acompanhamento de órgão.
Era um canto delicado, que inebriava desde o primeiro momento; que não carecia de análise para ser compreendido e enchia a alma de volúpia.
Parecia-me que teria ficado uma eternidade a ouvi-lo; não ousei dirigir a palavra ao meu guia, tanto receava perder-lhe uma nota.
Urânia apercebeu-se. Estendeu a mão para um lago e com o dedo indicou um grupo de seres alados que pairavam por cima das águas azuis.


URÂNIA                        CAMILLE FLAMARION

Deixe seu comentário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário ou dúvida. Terei prazer em respondê-lo.