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domingo, 5 de maio de 2013

Os horizontes celestes

 Olá,

“... Dia virá, e mui proximamente, pois que estás chamado a vê-lo, em que o estudo das condições da vida nas diversas províncias do Universo será o objeto essencial – e o grande encanto – da Astronomia.
 Bem depressa, em vez de se ocuparem simplesmente com a distância, com o movimento e com a massa material dos vossos planetas vizinhos, os astrônomos descobrir-lhe-ão a constituição física, os aspectos


geográficos, a climatologia, a meteorologia; penetrarão o mistério da sua organização vital e discutirão a respeito dos respectivos habitantes.
 Afirmarão que Marte e Vênus se acham atualmente povoados de seres pensantes; que Júpiter está ainda no seu período primário de preparação orgânica; que Saturno plana em condições inteiramente diferentes das que presidiram ao estabelecimento da vida terrena e, sem jamais passar por estado análogo ao da Terra, será habitado por seres incompatíveis com os organismos terrestres.
Novos métodos farão conhecer a constituição física e química dos astros, a natureza das atmosferas. Instrumentos aperfeiçoados permitirão mesmo descobrir os testemunhos diretos da existência dessas Humanidades planetárias e pensar em estabelecer comunicação com elas.
 Eis a transformação científica que há de assinalar o fim do décimo-nono século e que há de inaugurar o vigésimo.”
Eu escutava, enlevado, as palavras da musa celeste, que iluminavam para mim, com luz inteiramente nova, os destinos da Astronomia e me inundavam de ardor mais vivo ainda. Tinha sob os olhos o panorama dos mundos inumeráveis que rolam no Espaço, e compreendi que o fim da Ciência devia ser tornar conhecidos esses longínquos universos, fazer-nos viver nesses horizontes imensos.
 A formosa deusa continuou:
– A missão da Astronomia será mais elevada ainda. Depois de vos haver feito sentir e dado a conhecer que a Terra não é mais do que uma cidade na pátria celeste e que o homem é cidadão do céu, irá mais longe. Descobrindo o plano sobre o qual o universo físico está construído, mostrará que o universo moral se acha alicerçado sobre esse mesmo plano; que os dois mundos não formam senão um mesmo mundo e que o Espírito governa a Matéria.
O que ela houver feito quanto ao Espaço, realizará quanto ao Tempo.
“Depois de haver apreciado a imensidade do Espaço, e reconhecido que as mesmas leis reinam simultaneamente em todos os lugares e fazem do imensurável Universo uma exclusiva unidade, sabereis que os séculos do passado e do futuro estão associados ao tempo presente, e que as mônadas pensantes viverão eternamente, por transformações sucessivas e progressivas; aprendereis que há Espíritos incomparavelmente superiores aos maiores Espíritos da Humanidade terrestre, e que tudo progride para a perfeição suprema; ficareis sabendo também que o mundo material não é mais do que uma aparência e que o ser real consiste em uma força imponderável, invisível e intangível.
“A Astronomia será, pois, eminentemente e antes de tudo, a diretriz da Filosofia.
Os que raciocinarem fora dos conhecimentos astronômicos ficarão à margem da Verdade.
Os que, fiéis, seguirem o seu fanal, irão subindo gradualmente na solução dos grandes problemas.
“A filosofia astronômica será a religião dos espíritos superiores.
“Deves assistir, acrescentou ela, a essa dupla transformação da Ciência. Quando deixares o mundo terrestre, a ciência astronômica, que tão legitimamente já admiras, estará de todo renovada, tanto na forma quanto na essência.
“Isso, porém, não é tudo. A renovação de uma ciência antiga pouco serviria ao progresso geral da Humanidade, se esses sublimes conhecimentos, que desenvolvem o Espírito, iluminam a Alma e a libertam das mediocridades sociais, ficassem encerrados no acanhado círculo dos astrônomos de profissão. Esse tempo vai passar também.
O alqueire deve ser entornado. Cumpre empunhar o facho, aumentar-lhe o fulgor, levá-lo às praças públicas, às ruas populosas, até às mais escusas vielas. Todo o mundo é chamado a receber a luz; estão todos sequiosos dela, principalmente os humildes, principalmente os deserdados da fortuna, pois esses pensam mais, estão ávidos de ciência, enquanto que os satisfeitos do século nem suspeitam da sua própria ignorância e têm quase orgulho em permanecer assim.
Sim, a luz da Astronomia deve ser espalhada pelo mundo; deve penetrar até as massas populares, iluminar as consciências, elevar os corações. E será essa a sua mais bela missão; será esse o seu benefício.


URÂNIA                                CAMILLE FLAMARION

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