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quarta-feira, 19 de março de 2014

Bem viver - EPHPHATHA — ABRE-TE!

Olá,

Ecoava pelas serranias a bênção da cura produzida na mulher Cananéia, qual raio de inesperada luz que atingisse demorada noite que dominava os habitantes de Tiro.
Face ao inusitado fenômeno, uma compreensão nova começou a dilatar o entendimento daquelas gentes ante o fato irretorquível da divina interferência, que a todos comovera.
Era, porém, mister que Ele conduzisse a mensagem por toda parte, pois que para isso viera.
Deixou, portanto, as alturas da montanha e começou a descer, buscando as paisagens queridas do Lago como para refazer-se das demoradas fadigas.
Na longa jornada fruíra com os amigos a necessária comunhão com o Alto. Todavia, deveria prosseguir no ministério sublime da sementeira da esperança.
Os tecidos gastos que se refaziam ao contato das Suas mãos voltariam a disjuntar-se, pois que todos os homens marcham inexoravelmente para o túmulo.

Por mais longos e demorados sejam os dias do ser na Terra, cada etapa reencarnatória é sempre breve período que faculta aprendizagem mas não realiza todo o trabalho de sublimação num só lance. Imprescindível, portanto, conceder aos homens os instrumentos de libertação definitiva das amarras infelizes para facultar a ascensão dos candidatos em experiências necessárias quão dolorosas.
Por essa razão, a palavra de vida tinha regime de urgência, por transformar-se em fonte de incomparáveis benefícios, de cujas consequências o homem galgaria os degraus superiores, na busca da felicidade e da paz.
Vivendo entre os homens permitia-se o Mestre sentimentos que O nivelavam aos companheiros, de modo a fazer-se um igual, conquanto a Sua elevação incomparável de Sublime Guia e Benfeitor de todos.
Cercava-se dos amigos e ofertava-lhes os tesouros incalculáveis da esperança na Vida Espiritual, lenindo-lhes todas as aflições e enxugando-lhes os suores pesados com o lenço da ternura e os panos da amizade pura.
Atendia às rogativas das mães aflitas ante os esquifes dos filhos adormecidos em catalepsia profunda; auscultava os sentimentos de dor e de angústia, tentando diminuir a mágoa e o medo; acudia à solicitação infantil; dialogava com os comensais da usura e da delação observando-lhes os abismos íntimos entulhados de treva; remendava corpos dilacerados, abrindo olhos e ouvidos, desvinculando das criaturas os espíritos imundos, mas tudo isto não era o essencial...
Sua compaixão socorria, consoladora, as mazelas humanas a fim de sustentar os lutadores e aflitos, não obstante, cuidasse de que cada um dos beneficiados não voltasse aos erros, de modo a se defenderem de males muito maiores.
Penetrar nas paisagens das almas e clarificá-las; arrancá-las do potro do ódio e das algemas do orgulho; quebrar todos os grilhões com o pretérito culposo e fazer brilhar a luz da confiança nova — eis o ministério maior a que Ele dava o seu mais expressivo carinho, albergando nos horizontes infinitos do Seu verbo de luz as Humanidades dos tempos porvindouros...
Os homens, porém, mergulhados no corpo de névoa, esquecidos das visões santificantes das Esferas Espirituais, atormentam-se e debatem-se pela conquista do maravilhoso, do deslumbrante, a fim de poderem avançar embora claudicantes, no rumo da legítima aspiração.
E por isso, o Mestre socorria as necessidades das multidões que O seguiam e buscavam ávidas de novos milagres...
Além do Lago estavam as terras da Gaulonítida e da Decápole, coroando os montes rasgados abruptamente sobre as águas...
Aqueles sítios que se caracterizavam pelo orgulho da cultura helenista e eram irrigados pelo politeísmo recusavam tudo que procedia de Israel, em velhas e demoradas rixas, particularmente quando originados da Galiléia, que eram terras de pastores, pescadores, lavradores, gentes simples e humildes...
O Mestre, todavia, experimentava a necessidade de levar a todas as terras ao alcance das Suas jornadas o verbo divino e reconfortante.
Como, porém, as notícias dos Seus prodígios já atingissem aquelas regiões, aglomeraram-se curiosos que O identificaram e de inopino uma multidão se adensou à Sua volta.
Como as enfermidades são a resultante dos desregramentos humanos e estes se encontrem por toda parte, ali, diante das mãos, os limitados e infelizes formavam compacto grupo, ansioso, cheio de esperanças...
Nas suas almas as interrogações íntimas inquiriam quanto às possibilidades do Galileu e cantando expectativas acercavam-se ávidos, buscando o aguardado milagre libertador de fora, pois o verdadeiro fenômeno da libertação que procede de dentro sempre fica à margem do interesse coletivo.
Diante d'Ele exaltam-se os desejos superiores. A Sua paz irradiante transforma-se nos que O cercam em festa de alegria e a Sua luz ignota penetra dulcificando, de modo a que singular e insólita serenidade de todos se aposse, tranquilizante.
Nesse clima que visita aqueles que ali ora O recebem, alguém, em nome do desejo de todos, antes de qualquer delonga, antecipando a que os Seus lábios entoem o hino do despertamento de consciências, toma de um atormentado, de todos conhecido, um surdo e gago, e apresenta-o a  Ele, rogando, em dúvida, Sua intervenção. (*)
O homem que personifica a representação das chagas humanas de todos os tempos deseja e duvida, anseia e teme, quer e não compreende, deixando-se arrastar inerme pela curiosidade geral.
Comovido ante o paciente irresponsável, cobaia ignorante da mole humana, que testa a Sua grandeza e o Seu poder, toma-o pela mão e afasta-se...
O homem segue-O tocado pelo estranho magnetismo que se irradia do Mestre.
Sente-se como jamais outrora experimentara sensação igual, e acompanha quase em júbilo o incomparável Estranho, entregando-se-Lhe tranquilamente, agora em totalidade de confiança.
. . . A sós, o Amigo ergue os olhos aos Céus, põe os seus dedos nos ouvidos do enfermo e toca-lhe a língua.
— Ephphatha — diz o Rabi — Abre-te!
Desconhecida energia vitaliza aquele ser alquebrado, vencido, e ele brilha pelos olhos em fulguração de felicidade.
Fala, ouve e toda uma sinfonia canta no seu espírito, fazendo-o vibrar.
— Não o digas a ninguém, — ordena o Médico Divino.
... Mas o homem, dali saindo, narra aos ouvintes deslumbrados a cura de que fora objeto.

Considerando a moderna fenomenologia mediúnica — antiga na forma, pois que de todos os tempos, e hodierna pelos ensinamentos por ela hauridos — os mesmos interesses perturbam as atuais multidões como no passado àquelas que acompanhavam Jesus.
E ainda hoje, conquanto ouçam a Verdade, demoram-se de entendimento tardo, quais se fossem surdos e embora falem, gaguejam diante dos compromissos superiores, demorando lamentavelmente na mesma odienta pachorra a que se acostumaram, rogando, porém, novidades, o sobrenatural, o maravilhoso, para prosseguirem no reino encantado da ilusão.
... E Ele erguendo os olhos proferiu: Ephphata!
O surdo e gago, reconhecido, saiu a narrar o de que fora instrumento, iniciando de logo a própria, indispensável renovação.
(*) Marcos 7:31 a 37.
Nota da Autora espiritual.

Amélia Rodrigues/Divaldo P. Franco                        Luz do Mundo

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