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sábado, 12 de julho de 2014

Bem viver - Medo

Olá,

Decorrente dos fatores sociológicos, das pressões psicológicas, dos impositivos econômicos, o medo assalta o homem, empurrando-o para a violência irracional ou amargurando-o em profundos abismos de depressão. Num contexto social injusto, a insegurança engendra muitos mecanismos de evasão da realidade, que dilaceram o comportamento humano, anulando, por fim, as aspirações de beleza, de idealismo, de afetividade da criatura.
Encarcerando-se, cada vez mais, nos receios justificáveis do relacionamento instável com as demais pessoas, surgem as ilhas individuais e grupais para onde fogem os indivíduos, na expectativa de equilibrarem-se, sobrevivendo ao tumulto e à agressividade, assumindo, sem darem-se conta, um comportamento alienado, que termina por apresentar-se igualmente patológico.

As precauções para resguardar-se, poupar a família aos dissabores dos delinquentes, mantendo os haveres em lugares quase inexpugnáveis, fazem o homem emparedar-se no lar ou aglomerar-se em clubes com pessoal selecionado, perdendo a identidade em relação a si mesmo, ao seu próximo e consumindo-se em conflitos individualistas, a caminho dos desequilíbrios de grave porte.
Os valores da nossa sociedade encontram-se em xeque, porque são transitórios.
Há uma momentânea alteração de conteúdo, com a consequente perda de significado.
A nova geração perdeu a confiança nas afirmações do passado e deseja viver novas experiências ao preço da alucinação, como forma escapista de superar as pressões que sofre, impondo diferentes experiências.
No âmago das suas violações e protestos, do vilipêndio aos conceitos anteriores vige o medo que atormenta e submete às suas sombras espessas.
A quantidade expressiva de atemorizados trabalha a qualidade do receio de cada um, que cresce assustadoramente, comprimindo a personalidade, até que esta se libere em desregramento agressivo, como forma de escapar à constrição.
Quem, porém, não consiga seguir a correnteza da nova ordem, fica afogado no rio volumoso, perde o respeito por si mesmo, aliena-se e sucumbe.
Na luta furiosa, as festas ruidosas, as extravagâncias de conduta, os desperdícios de moedas e o exibicionismo com que algumas pessoas pensam vencer os medos íntimos, apenas se transformam em lâminas baças de vidro pelas quais observam a vida sempre distorcida, face à óptica incorreta que se permitem. São atitudes patológicas decorrentes da fragilidade emocional para enfrentar os desafios externos e internos. Adaptando-se às sombras dominadoras da insensatez, neglicencia o sentido ético gerador da paz.
(...) A anarquia então impera, numa volúpia destrutiva, tentando apagar as memórias do ontem, enquanto implanta a tirania do desconcerto.
Os seus vultos expressivos são imaturos e alucinados, em cuja rebelião pairam o oportunismo e a avidez.
Procedentes dos guetos morais, querem reverter a ordem que os apavora, revolucionando com atrevimento, face ao insólito, o comportamento vigente.
(...) A alucinação generalizada certamente aumenta o medo nos temperamentos frágeis, nas constituições emocionais de pouca resistência, de começo, no indivíduo, depois, na sociedade.
Esta é uma sociedade amedrontada.
As gerações anteriores também cultivaram os seus medos de origem atávica e de receios ocasionais.
O excesso de tecnicismo com a correspondente ausência de solidariedade humana produziram a avalanche dos receios.
A superpopulação tomando os espaços e a tecnologia reduzindo as distâncias arrebataram a fictícia segurança individual, que os grupos passaram a controlar, e as consequências da insânia que cresce são imprevistas.
Urge uma revisão de conceitos, uma mudança de conduta, um reestudo da coragem para a imediata aplicação no organismo social e individual necrosado.
Todavia, é no cerne do ser — o Espírito — que se encontram as causas matrizes desse inimigo rude da vida, que é o medo.
Os fenômenos fóbicos procedem das experiências passadas — reencarnações fracassadas —, nas quais a culpa não foi liberada, face ao crime haver permanecido oculto, ou dissimulado, ou não justiçado, transferindo-se a consciência faltosa para posterior regularização.
Ocorrências de grande impacto negativo, pavores, urdiduras perversas, homicídios programados com requintes de crueldade, traições infames sob disfarces de sorrisos produziram a atual consciência de culpa, de que padecem muitos atemorizados de hoje, no interrelacionamento pessoal.
Outrossim, catalépticos sepultados vivos, que despertaram na tumba e vieram a falecer depois, por falta de oxigênio, reencarnam-se vitimados pelas profundas claustrofobias, vivendo em precárias condições de sanidade mental.
O medo é fator dissolvente na organização psíquica do homem, predispondo-o, por somatização, a enfermidades diversas que aguardam correta diagnose e específica terapêutica.
À medida que a consciência se expande e o indivíduo se abriga na fé religiosa racional, na certeza da sua imortalidade, ele se liberta, se agiganta, recupera a identidade e humaniza-se definitivamente, vencendo o medo e os seus sequazes, sejam de ontem ou de agora.

Joanna de Ângellis/Divaldo P. Franco                            O Homem Integral

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