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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Bem Viver - Efeitos da Prece II

Olá,

É-lhes útil? Esta é outra questão.

Os que contestam a eficácia da prece dizem: Os desígnios de Deus são imutáveis e ele não os derroga a pedido do homem.

─ Isto depende do objeto da prece, pois é muito certo que Deus não pode infringir suas leis a fim de satisfazer a todos os pedidos inconsiderados que lhe dirigimos.
Encaremo-la apenas do ponto de vista do alívio das almas sofredoras.
Para começar, afirmamos que, admitindo que a duração efetiva dos sofrimentos não possa ser abreviada, a comiseração e a simpatia são um abrandamento para aquele que sofre.
Se um prisioneiro for condenado a vinte anos de prisão, não sofrerá mil vezes mais estando só, isolado, abandonado? Mas se uma alma caridosa e compassiva vier visitá-lo, consolá-lo, encorajá-lo, não terá o poder de quebrar suas cadeias antes de cumprida a pena? Não as tornará menos pesadas e os anos não parecerão mais curtos? Quem na Terra não encontra na compaixão um alívio às suas misérias, um consolo nas expansões da amizade?

Podem as preces abreviar os sofrimentos?

O Espiritismo responde: Sim, e o prova pelo raciocínio e pela experiência. Pela experiência, porque são as próprias almas sofredoras que vêm confirmá-lo e revelarnos a mudança de sua situação. Pelo raciocínio, considerando-se a sua maneira de encarar os fatos.

As comunicações que temos com os seres de além-túmulo fazem passar aos nossos olhos todos os graus do sofrimento e da felicidade. Vemos, pois, seres infelizes, horrivelmente infelizes, e se o Espiritismo, de acordo com um grande número de teólogos, não admite o fogo senão como uma figura, como um símbolo das maiores dores, numa palavra, como um fogo moral, devemos convir que a situação de alguns não é muito melhor do que se estivessem no fogo material. O estado de felicidade ou de infelicidade após a morte não é, pois, uma quimera ou um verdadeiro fantasma. Mas o Espiritismo ensina que a duração do sofrimento depende, até certo ponto, da vontade do Espírito e este pode abreviá-lo pelos esforços que fizer para progredir. A prece, bem entendido, a prece real, de coração, ditada por uma verdadeira caridade, incita o Espírito ao arrependimento; desenvolve-lhe os bons sentimentos; esclarece-o; faz com que compreenda a felicidade dos que lhe são superiores; anima-o a fazer o bem, a tornar-se útil, porque os Espíritos podem fazer o bem e o mal. De certo modo, liberta-o do desencorajamento em que se entorpece e permite-lhe vislumbrar a luz. Por seus esforços pode, pois, sair do atoleiro em que está preso. É assim que a mão protetora que lhe estendemos pode abreviar-lhe os sofrimentos.

Nosso assinante pergunta se os Espíritos que solicitam preces não estariam ainda sob a influência das ideias terrenas. A isto respondemos que entre os Espíritos que se comunicam conosco há os que, em vida, professaram todos os cultos: católicos, protestantes, judeus, muçulmanos e budistas.
 À pergunta: Que podemos fazer que vos seja útil? Respondem: “Orai por mim”. ─ Uma prece segundo o rito que professastes será para vós mais útil ou mais agradável? ─ “O rito é a forma. A prece de coração não tem rito”.

Nossos leitores certamente se recordam da evocação da viúva do Malabar, inserta na Revista de dezembro de 1858. Quando lhe dissemos: “Pedis que oremos por vós, mas nós somos cristãos. Nossas preces poderiam agradar-vos? ela respondeu: “Só há um Deus para todos os homens”.

Os Espíritos sofredores ligam-se aos que oram por eles, como o ser reconhecido àquele que lhe faz bem. Essa mesma viúva do Malabar veio várias vezes às nossas reuniões, sem ser chamada. Segundo dizia, vinha para instruir-se. Chegava a nos acompanhar na rua, conforme o constatamos através de um médium vidente. O assassino Lemaire, cuja evocação publicamos em nosso número de março de 1858, evocação que, diga-se de passagem, excitou a veia trocista de alguns céticos, esse mesmo assassino, infeliz, abandonado, encontrou em um de nossos leitores um coração compassivo, que teve pena dele. Veio algumas vezes visitá-lo e procurou manifestar-se por todos os meios e modos até que essa pessoa, tendo ocasião de esclarecer-se quanto a essas manifestações, soube que era Lemaire que lhe queria demonstrar o seu reconhecimento. Quando lhe foi possível externar o seu pensamento, disse-lhe: “Obrigado, alma caridosa! Eu me achava só, com os remorsos de minha vida passada e tivestes piedade de mim. Estava abandonado e pensastes em mim. Estava no abismo e estendestes-me a mão. Vossas preces foram para mim como um bálsamo consolador. Compreendi a enormidade dos meus crimes e peço a Deus que me conceda a graça de repará-los numa nova existência, na qual possa fazer tanto bem quanto mal já fiz. Obrigado, mais uma vez! Obrigado!”

Para encerrar, eis aqui a opinião atual do ilustre pastor protestante, Sr. Adolphe Monod, falecido em abril de 1856, sobre os efeitos da prece:

“O Cristo disse aos homens: Amai-vos uns aos outros. Esta recomendação encerra a de empregar os meios possíveis de testemunhar afeição aos nossos semelhantes, sem entretanto entrar em detalhes quanto à maneira de atingir esse fim.

Se é certo que nada pode impedir o Criador de aplicar a justiça de que ele próprio é modelo, a todas as ações do Espírito, não é menos certo que a prece que lhe dirigis, em favor daquele por quem vos interessais, é para este último um testemunho de saudade, que poderá efetivamente contribuir para lhe aliviar os sofrimentos e o consolar. Desde que manifesta o menor arrependimento, e só então, é socorrido, mas nunca lhe permitem ignorar que uma alma simpática dele se ocupou. Este pensamento o incita ao arrependimento e o deixa na doce persuasão de que a intercessão dessa alma lhe foi útil. Disso resulta, necessariamente, de sua parte, um sentimento de reconhecimento e de afeto por quem lhe deu essa prova de amizade ou de piedade. Em consequência disso, o amor recomendado pelo Cristo aos homens cresceu entre eles. Ambos obedeceram à lei de amor e de união de todos os seres, lei de Deus, que deve conduzir à unidade, que é a finalidade do Espírito”.

─ Nada tendes a acrescentar a estas explicações?

─ Não. Elas encerram tudo.

─ Agradeço-vos por terdes vindo trazê-las.

─ Para mim é motivo de felicidade poder contribuir para a união das almas, união que os bons Espíritos procuram fazer prevalecer sobre todas as questões de dogma, que as dividem.

Allan Kardec                     Revista Espírita -Dezembro/1859

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