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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Bem Viver - Efeitos da Prece

Olá,

lº. ─ É a prece agradável àqueles por quem é feita?

Para começar, ouçamos, sobre a primeira pergunta, o Rev. Pe. Félix, numa introdução notável a um pequeno livro intitulado “Les morts souffrants et délaissés”49:


“A devoção para com os mortos não é só a expressão de um dogma e a manifestação de uma crença. É um encanto da vida, um consolo para o coração.

Com efeito, que há de mais suave ao coração do que esse culto piedoso, que nos liga à memória e ao sofrimento dos mortos?
Crer na eficácia da prece e das boas obras para aliviar aqueles que perdemos; crer, quando os choramos, que essas lágrimas que por eles derramamos ainda lhes podem servir de auxílio; crer, enfim, que mesmo nesse mundo invisível que habitam, o nosso amor pode ainda visitá-los em seu benefício; que doce, que suave crença!
 E nessa crença, que consolação para aqueles que viram a morte entrar sob o seu teto e feri-los no coração!
Se esta crença e este culto não existissem, o coração humano, pela voz de seus mais nobres instintos, diz a todos que o compreendem que seria necessário inventá-los, quando mais não fosse para por doçura na morte e encanto até nos nossos funerais.
 Com efeito, nada transforma e transfigura o amor que ora sobre um túmulo ou chora nos funerais, como essa devoção à lembrança e ao sofrimento dos mortos.
 Essa mistura da religião e da dor, da prece e do amor, tem simultaneamente não sei que de delicado e de enternecedor. A tristeza que chora se torna um auxiliar da piedade que reza. Por sua vez, a piedade se torna, para a tristeza, o mais delicioso aroma. A fé, a esperança e a caridade jamais se conjugam melhor para honrar a Deus consolando os homens e para fazer do alívio aos mortos a consolação dos vivos!

“Esse encanto suavíssimo que encontramos em nosso intercâmbio fraterno com os mortos, quanto ainda mais suave se torna quando nos persuadimos de que, sem dúvida, Deus não deixa esses entes queridos inteiramente ignorantes do bem que lhes fazemos.
Quem não desejou, ao orar por um pai ou por um irmão falecido, que ele ali estivesse para escutar e que, quando fazia por ele os seus votos ali estivesse para ver?
 Quem não teria dito, ao enxugar uma lágrima junto ao féretro de um parente ou de um amigo perdido: Se ele ao menos pudesse ouvir-me! Quando meu amor lhe oferece com as lágrimas a prece e o sacrifício, se eu tivesse certeza de que ele o sabe e que seu amor compreende sempre o meu!
Sim, se eu pudesse crer que não só o alívio que lhe envio chega até ele, mas se pudesse persuadir-me, também, de que Deus se digna destacar um de seus anjos para lhe contar, ao levar-lhe o meu benefício, que esse alívio vem de mim, oh! Deus, que sois bom para os que choram, que bálsamo em minha ferida! Que consolação em minha dor!

“A Igreja não nos obriga, é verdade, a crer que os nossos irmãos falecidos saibam, efetivamente, no Purgatório, aquilo que por eles fazemos aqui na Terra, mas também não o proíbe; ela o insinua e parece persuadir-nos pelo conjunto de seu culto e de suas cerimônias, e homens sérios e respeitáveis da Igreja não receiam afirmá-lo. Aliás, seja como for, se os mortos não têm o conhecimento presente e claro das preces e das boas obras que por eles fazemos, é certo que sentem os seus salutares efeitos. Esta crença firme não basta a um amor que deseja consolar-se da dor através do benefício e fecundar as lágrimas pelos sacrifícios?”

Isso que o Pe. Félix admite como hipótese, a Ciência Espírita admite como verdade incontestável, porque dá a sua prova patente. Com efeito, sabemos que o mundo invisível é composto dos que abandonaram seu envoltório corporal ou, por outras palavras, das almas dos que viveram na Terra. Essas almas ou esses Espíritos, o que é a mesma coisa, povoam o espaço. Estão em toda parte, tanto ao nosso lado quanto nas regiões mais distantes. Desembaraçados do pesado e incômodo fardo que os retinha na superfície do solo, tendo apenas um envoltório etéreo, semimaterial, transportam-se com a rapidez do pensamento.
A experiência prova que podem atender ao nosso apelo, mas, e isso é perfeitamente compreensível, vêm mais ou menos de boa vontade, com maior ou menor prazer, de acordo com a nossa intenção. A prece é um pensamento, um laço que a eles nos liga. É um apelo, uma verdadeira evocação. Ora, como a prece, eficaz ou não, é sempre um pensamento benévolo, não pode deixar de ser agradável àqueles a quem se dirige.

Allan Kardec Revista Espírita      -       Dezembro/1859

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